A cassete
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O título que caracteriza este texto podia muito bem reportar-se ao episódio do Godinho Lopes que, relembre-se, prometeu revelar a fita de uma cassete que, alegadamente, continha imagens ou sons comprometedores para com Luís Filipe Vieira. Até hoje, não temos conhecimento de nada e o conteúdo da cassete permanece no segredo dos deuses. Mas não, a cassete de que falo é outra; refiro-me àquela que o senhor Gabriel, que não é um Pensador nem tão-pouco um anjo que desceu à Terra para anunciar o nascimento de Jesus, teima em passar sempre que as coisas não correm de feição pelo estádio da Luz.
Perante o volume anormal de aberrações que ouvi na última semana, sinto-me na necessidade de desconstruir este discurso e fazer uma pequena reflexão sobre esta cassete que, como qualquer outra, tem o lado A e lado B.
Nos últimos dias, o lado A da cassete tem estado mais em voga. O lado A é aquele que tem a música mais agressiva, privilegia as rockalhadas e o nível de decibéis que atinge é assustador. O intérprete principal é João Gabriel, director de comunicação do Benfica, mas contém outros vocalistas de renome como Jorge Jesus, Rui Gomes da Silva e o próprio líder da banda, Luís Filipe Vieira. Ouçamos os hits mais badalados do mais recente disco “Dois pontos perdidos em Olhão”, pela voz do tenor João Gabriel, e façamos aqui o papel de críticos musicais:
“Os árbitros não podem aldrabar a classificação e, nesta altura, a classificação está aldrabada por influência directa dos árbitros” – Pessoalmente, concordo e subscrevo esta análise. Mas não pelos mesmos motivos que o Pavarotti das conferências de imprensa. Obviamente que os árbitros, como intervenientes directos num jogo de futebol, assim como em qualquer outro desporto, influenciam, em maior ou menor grau, o desenrolar dos campeonatos; somam ou subtraem pontos a toda e qualquer equipa sem excepção. No caso concreto, os benfiquistas que analisem com lisura o desenrolar dos acontecimentos não podem ter razões de queixa da arbitragem, quanto mais pô-la em causa recorrendo a termos como ‘aldrabar’.
“Em matéria de penáltis, a regra parece ser só marcar quando a falta obrigar a internamento hospitalar” – Quando João Gabriel fala em internamento hospital, por certo está a referir-se à necessidade de Duarte Gomes fazer uma intervenção cirúrgica ocular, depois de marcar dois penalties a favor do Benfica por alegada mão/braço dos jogadores do Vitória de Guimarães, quando, na verdade, a bola embateu no peito e cabeça dos jogadores vitorianos; ou estará a referir-se ao penalty que ficou por marcar por mão de Bruno César dentro da área, frente à Académica, e o árbitro concedeu a falta fora dela, quando o resultado estava empatado a zero? Ah, já sei!, nestas duas situações, João Gabriel ficou afónico e não teve oportunidade de dar um concerto inédito para os 6 milhões de fãs… só em Portugal!.
“Mas além de cúmplice do antijogo, mostrou-se um diligente moço de recados do treinador do FC Porto, tantas as vezes e o tempo que dispensou a ver os jogadores do Benfica na grande área do Olhanense, de forma a garantir que não havia bloqueios que irritassem o treinador do FC Porto. João Capela bloqueou, isso sim, o jogo e não me parece que tenha sido só ingenuidade” – Esta tema só pode ser uma homenagem ao Nel Monteiro, pois eu desfiz-me a rir com a letra. Moço de recados do treinador do Porto?! Ha, ha, ha, ha! Bem, refeito de mais um ataque de riso, apraz-me perguntar: de que João Capela estará a falar o Apolo benfiquista? É o mesmo João Capela que fez vista grossa a dois penalties a favorecer o Porto contra a Olhanense? Ou foi o João Capela que propiciou esta série de acontecimentos?:
i) dia 9/11/2011, arbitrou o jogo Vitória de Setúbal x Naval, para a Taça da Liga, que ao cabo dos 90 minutos resultou em 3 expulsões para a equipa forasteira;
ii) dia 18/11/2011, a Naval via-se privada de 3 titulares frente a quem? Pois, o Benfica, para a Taça de Portugal. Coincidência, claro.
iii) dia 26/11/2011, para compor o ramalhete, João Capela é ‘promovido’ a árbitro do clássico Benfica x Sporting, partida em que, curiosamente, ficou uma grande penalidade por marcar, por falta de Jardel sobre Onyewu. Terá sido prémio pela partitura que orquestrou nas duas semanas transactas? João Gabriel esteve de férias nestas três semaninhas ou esteve em digressão pelas casas do Benfica? Muito estranho, este silêncio sobre a ingenuidade do senhor Capela…
Ora, outro elemento da banda não quis ficar atrás e afinou pelo mesmo diapasão; falo de Jorge Jesus, que por esta altura já conquistou o epíteto de Mestre da Táctica Musical. O Rod Stewart da Segunda Circular afirmou inequivocamente que o árbitro assistente do Benfica x Porto errou de propósito e, em jeito de disco riscado, contestou a expulsão da expulsão de Aimar. Quais os motivos? Aimar nunca tinha sido expulso e era um jogador técnico. Belas razões, não haja dúvida. A primeira não colhe, pois Aimar já foi expulso por mais do que uma vez e, inclusivamente, cuspiu em Capdevilla, quando ambos eram adversários em Espanha – as voltas que a vida dá… –, já para não falar nas inúmeras vezes que El Mago contesta decisões árbitro. A segunda razão é de bradar aos céus; não pode ser expulso porque é tecnicista? Por essa ordem de ideias, o Messi podia brutalizar os adversários que nunca seria expulso. Enfim. Sabem qual o problema de Jesus? Estava habituadinho à impunidade que grassa nos jogos do Benfica, onde Luisão, Maxi, Cardozo e Javi Garcia fazem trinta por uma linha e nada lhes acontece e agora está a ser complicado lidar com uma expulsão justa.
Os outros dois membros da banda – Vieira e Gomes da Silva – tinham feito a promessa de não falar de arbitragens até final do campeonato. Mal o Benfica começou a perder pontos frente a adversários de menor poderio e viu Porto a ultrapassá-lo na tabela classificativa, toca a cantar em uníssono o hino “Pressão sobre a arbitragem” a ver se vira disco de ouro lá para Maio. É como diz o outro, vira o disco e toca o mesmo.
Para finalizar esta desmistificação, que já vai longa, vou presentear o leitor com declarações de João Gabriel, aquando da final da Taça da Liga que opôs Sporting a Benfica e que teve aquele momento caricato protagonizado por Lucílio Baptista e Pedro Silva. Leia atentamente e compare com o que leu em cima, tomando como certo que estes excertos correspondem ao lado B da cassete, o lado soft, suave, cheio de baladas e músicas de embalar:
· “[Taça da Liga] resultou de todo o trabalho do nosso plantel, da nossa equipa técnica, da competência dos nossos jogadores, da capacidade do nosso guarda-redes”
· “A taça está aqui com mérito de toda a equipa técnica e de todos os nossos jogadores”
· “Há uma fronteira clara entre a frustração de uma derrota e a total falta de fair-play e tremendo mau perder”
· “[Sporting está a fazer uma] campanha (…) cujo único objectivo é condicionar o desempenho de quem tem responsabilidades pela arbitragem no campeonato”
Uau! Ena! Fantástico! Que actuação a solo deste artista! Registei uma enorme evolução desde 2009 até agora. Notou alguma diferença, estimado ouvinte, perdão, estimado leitor?