A águia de Vitória: cinzentona e perdulária
3 min readRui Vitória, numa analogia política, aproxima-se a passos largos da figura pachorrenta de António José Seguro. A passividade do treinador ribatejano poderá ser o maior entrave ao seu próprio sucesso no clube.
Sábado, 22 de agosto, o Futebol Clube do Porto acabava de voltar a ceder pontos na Madeira – afinal, foi muito por isto que João Gonçalves Zarco descobriu a pérola do Atlântico, e o fogoso Sporting de Jorge Jesus havia também surpreendentemente empatado com o Paços de Fereira. A nação benfiquista rejubilava. Projetava-se a liderança isolada do campeonato, bastava para tal, vencer o Arouca em casa emprestada, qual mini-estádio da Luz. A verdade é que ao minuto noventa e cinco deste domingueiro desafio ganhou consistência a noção de que a goleada com muita make-up dos quatro golos em quinze minutos fora apenas e só isso, leia-se enganadora, pouco sustentada.
Numa análise fria e racional, existe relativa margem de concordância com Rui Vitória. O Benfica fez mais do que suficiente para vencer a partida, acrescento, o Benfica fez muito mais do que os rivais diretos para vencer o seu desafio. Note-se que a equipa encarnada rematou trinta (!) vezes à baliza de Bracalli e criou dez oportunidades claras de golo, mas sem sucesso. Comparando os números, são de assinalável diferença: Sporting Clube Portugal (nove remates/cinco oportunidades de golo) Futebol Clube do Porto (sete remates/três oportunidades de golo). A equipa pecou clamorosamente na finalização, e, em suma, assinou outra exibição cinzentona e pouco auspiciosa. O que acrescentarão os dados estatísticos ao ego do adepto benfiquista? Nada. Absolutamente nada.
O discurso de bom rapaz disseminado por Rui Vitória, enaltecendo a entrega diária do seu plantel é curto e de equipa menor. Qualquer jogador que vista o Manto Sagrado tem o irrecorrível dever de deixar sangue, suor e até lágrimas em campo! Quanto mais não seja pelas somas astronómicas que mensalmente auferem, bem distantes das que os milhões de benfiquistas que carregam a equipa dispõem em toda a sua existência. No Vitória (de Guimarães), clube que muito aprecio, as perspetivas eram diferentes. A possibilidade de perder numa deslocação a Arouca seria entendível, mas no Benfica não, com o Arouca não. Neste contexto nunca!
Falta a Rui Vitória uma injeção de combatividade e não desejo que seja nova derrota a criar o efeito desfibrilhador no técnico. O novo treinador do Benfica terá de entender que os floreados discursivos e filosofias cor-de-rosa vendem livros e quando muito poderão dar direito a um artigo num reputado jornal intelectualizado, mas decididamente não vencem títulos no futebol. Rui Vitória terá de compreender também que a paciência dos adeptos benfiquistas está já no seu red line, adeptos esses que foram inexcedíveis no apoio à equipa nos três jogos oficiais e em pelo menos dois deles a supracitada equipa não replicou tamanho esforço e entrega. O caminho é longo, moroso, repleto de épicas batalhas. Queremos por direito outras ganas, outra atitude, outro Benfica. Creio ainda ser possível “entrar nos eixos”.
Notas finais para o salutar crescente nível competitivo da Primeira Liga portuguesa, em muitos casos com parcos recursos, mas de forte astúcia na hora de contratar e preparar cada encontro. Sublinho, por fim, o bom trabalho, embora nada surpreendente, de Lito Vidigal – agora treinador do Arouca Futebol Clube. Um homem competente, sagaz e assertivo. Prevejo que a equipa arouquense seja umas das boas surpresas em 2015/2016, sobretudo mais afoita do que a outrora treinada por Pedro Emanuel.