Caras novas, problemas antigos

Ao segundo jogo de cariz oficial surge o primeiro desaire. E, concomitantemente, surgem as primeiras ilações a retirar deste FC Porto renovado: está praticamente igual ao do ano passado, possuindo as mesmas virtudes e defeitos, apesar das muitas caras que entraram e saíram.

 

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Não vale a pena estar com rodriguinhos nesta matéria. A matriz do nosso técnico é intocável – diria até irrevogável, mas este termo ganhou novos significados com o uso dado por Paulo Portas. É mais provável uma freira septuagenária ceder ao pecado da carne do que Julen Lopetegui abdicar dos seus princípios, por mais que a realidade, plasmada nos resultados e exibições, mostre que não funcionam.

Na temporada passada, assistimos a inúmeros jogos em que a cadência atacante do FC Porto reflectia-se numa posse de bola enfadonha e infrutífera, coadjuvada pelos pontapés longos de Maicon. O que vimos na Madeira na semana passada? Isso mesmo, uma posse de bola enfadonha e infrutífera, coadjuvada pelos pontapés longos de Maicon. De facto, é desesperante que com novos intérpretes os vícios de antigamente se mantenham, mesmo que as características dos jogadores não se assemelhem às dos antecessores.

No fundo, tendo em consideração o arquétipo táctico adoptado pela maioria dos clubes em Portugal, Julen Lopetegui revela-se um óptimo aliado dos adversários. Isto porque a previsibilidade é por demais evidente. Esteja o FC Porto em vantagem, empatado a 5 minutos do fim ou a perder desde o primeiro segundo, é de prever uma posse de bola avassaladora no meio-campo defensivo e mais de uma dezena de passes longos de Maicon em busca de um colega desmarcado numa das alas quando os centrocampistas se fartam de trocar a bola entre eles. Como diz um conhecido meu, se o futebol não tivesse balizas, o FC Porto seria campeão destacado.

E chateia-me que prossigamos nesta senda única, como se fosse o Santo Graal do futebol, o caminho exclusivo para alcançar os intentos propostos. Vi com bons olhos na pré-temporada a experiência de jogar em 4x4x2. Pensei que Lopetegui estaria disposto a projectar um plano B quando o habitual 4x3x3 estivesse desinspirado. Face às características dos extremos – pouca verticalidade e pouca apetência para cruzar (Varela veio melhorar estes aspectos) –, é pertinente que haja uma solução alternativa.

Curiosamente, nesta segunda jornada frente ao Marítimo, Lopetegui tinha uma excelente oportunidade de colocar em prática o tal plano que andou a conjurar nos jogos de preparação. E o que faz? Três substituições sem o mínimo de audácia. Não correu qualquer risco e, claro está, o resultado na segunda parte não sofreu qualquer alteração.

Lopetegui argumentou, na antevisão do jogo contra o Estoril, que nada garantia que com dois avançados tivesse logrado os três pontos na Madeira. É verdade. Mas o técnico espanhol também já devia saber que manter o marasmo tradicional não trouxe, não traz nem há-de trazer qualquer dividendo à equipa. Aliás, não é por acaso que o FC Porto de Lopetegui não conseguiu ainda uma reviravolta no marcador. E, pelo andar da carruagem, não se perspectiva que esse feito seja alguma vez alcançado.

Como tendo dito ao longo dos meus textos, considero Julen Lopetegui um treinador inteligente. Daí que a minha frustração seja considerável perante a sua teimosia; choca-me muito mais ver que um homem inteligente não muda quando as suas ideias não vingam. Faz lembrar uma pessoa que tem um acidente de viação sempre no mesmo sítio. Se sabe que tem de ir mais devagar numa determinada curva, por que raio insiste em acelerar o carro frequentemente naquela zona?

Por isso, mais do que arranjar brinquedos novos (leia-se mais contratações), pediria a Lopetegui que pudesse tirar o máximo proveito do que já tem à disposição, que, diga-se, não é nada mau. Estou em crer que o problema está no sistema e não nos jogadores que o interpretam. É o fio de jogo que tem de ser melhorado, as movimentações têm que ser mais frequentes, os médios têm que ter instruções de vir buscar jogo e desenvolver jogadas e não desesperar com pontapé para a frente de um central. Em suma, temos que ter a capacidade – diria até a necessidade – de massacrar o adversário, de exceder os limites, de criar situações de perigo em catadupa. Porque estamos lentamente a perder a identidade de equipa dominadora e temida. Em proveito dos adversários.

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