Anatomia de um sonho

Uma das primeiras crónicas que tive o prazer de escrever para este espaço foi sobre um ex-operário fabril inglês. Um senhor que há bem pouco tempo era responsável pela produção de próteses de carbono, profissão extremamente nobre, onde existia a responsabilidade de oferecer novos membros anatómicos (braço, pernas, entre outros) a diversas pessoas, mimosear novas possibilidades para uma vida que foi perturbada de forma grave, quer por acidente, quer por doença súbita. Hoje, este ramo profissional foi deixado para trás, que apesar de nobre era bastante duro, e, simultaneamente, uma paixão falou mais alto, a paixão do futebol. Refiro-me, claro está, a Jamie Vardy, a nova coqueluche do futebol inglês.

 

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Tal como Vardy produzia um braço em carbono que iria ser peça preponderante da vida de alguém, os golos que marcam são também responsáveis pela felicidade dos adeptos do Leicester e também parte vital do primeiro lugar que o clube ocupa na Premier League. Assim como um braço é sem dúvida uma parte vital da felicidade de um qualquer ser humano, um indivíduo não é capaz de executar a mais simples da tarefa se for igualmente deficitário de pernas e cabeça. Então, usando de novo a analogia – com todo o respeito, consideração e estima que estas individualidades me merecem –, um clube e a felicidade dos seus adeptos não pode igualmente viver apenas de uma ponta de lança brilhante; outras peças de igual preponderância têm de coabitar no mesmo espaço futebolístico. No Leicester, a situação não é distinta, e juntamente com Vardy vivem nomes a que é atribuída de forma equitativa a responsabilidade pelas façanhas heróicas deste grupo de jogadores.

Voltando às metáforas, se Jamie Vardy é um braço direito de um destro, Riyad Mahrez é então o braço esquerdo dessa mesma pessoa. Fundamental no Leicester, muitos duvidaram do seu talento. O argelino possui um tipo de jogo tipicamente de rua em que reinam os dribles e um pouco de egoísmo na pertença da bola, mas abunda talento por todo o seu futebol. O canhoto joga em qualquer posição do meio campo ofensivo, atuando preferencialmente pela direita, possui como ponte forte uma enorme precisão no último passe e aliado a isso um forte remate e poderio técnico. Conta já esta época com 10 golos e 6 assistências, contabilizando inclusivamente um hat-trick diante do Swansea.

A destreza e a força não são por si só representação de sucesso, pelo que terá que existir um cérebro que seja capaz de coordenar e colocar em prática e de forma doseada todo este potencial. Assim sendo, Claudio Ranieri, o treinador do Leicester, é também considerado um dos responsáveis deste sucesso. Conhecido mais pelas suas habilidades de possuir amigos em lugares influentes do que pela sua capacidade como treinador, o italiano tem surpreendido toda a crítica com a sua performance. Foi capaz de organizar a equipa de forma bastante competente, num 4-4-2 clássico que privilegia o contra-ataque e um jogo em profundidade, e ainda conseguir elevar o nível exibicional de grande parte dos jogadores do plantel. Sem dúvida um trabalho abnegado de alguém a quem vaticinavam uma tragédia digna dos maiores compêndios da história grega.

O sucesso final ainda está longe, mas o que já alcançaram ninguém lhes tira. Até um recorde de Van Nistelrooy foi ao tapete. Veremos o que Ranieri e os seus comandados são capazes de alcançar doravante. As jornadas natalícias e de ano novo, bem como o Boxing Day, vêm a caminho, jogos que podem ser decisivos para o futuro do clube. Eu como adepto de futebol fico a torcer por eles!

 

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