Mathieu Flamini conta com 31 anos, ainda deve estar longe de abandonar a carreira de futebolista, mas tem o futuro já delineado para quando pousar as chuteiras. E que futuro!
O médio francês, actualmente ao serviço do Arsenal, fundou em 2008 (nesta altura actuava no AC Milan) com um amigo uma empresa com sede em Caserta, Itália, chamada GF Bioquímica, empresa essa que ocultou durante vários anos da sua família e companheiros e que se dedica à pesquisa de alternativas sustentáveis.
Flamini abriu o jogo ao jornal britânico The Sun. O gaulês confessou que investiu muitos milhões no estudo do ácido levulínico, uma substância que pode funcionar como alternativa ao petróleo. Essa molécula é produzida a partir da biodegradação e pode resultar na produção de muitos produtos, como fármacos, cosméticos e plásticos; o potencial mercado desta empresa está avaliada em 25 biliões de euros.
Durante sete anos, não mencionei o investimento a ninguém. Quando eu me transferi para o AC Milan, em 2008, eu conheci Pasquale Granata, que se tornou um amigo, e sempre tivemos em mente fazer algo juntos. Eu sempre fui próximo da natureza e preocupado com assuntos ambientais, mudanças climáticas e aquecimento global. Ele, economista, tinha ideias parecidas. Estávamos a ver como poderíamos contribuir no combate ao problema. Depois de algum tempo, ficamos a conhecer o ácido levulínico. É uma substância identificada pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos como uma das 12 moléculas com potencial para substituir o petróleo em todas as suas formas.
O projecto do jogador gunner começou numa pesquisa universitária, cujos resultados serão adaptados na sua nova fábrica ao longo dos próximos anos:
Os pesquisadores disseram-nos que o ácido levulínico é o futuro e, pesquisando neste campo, poderíamos chegar a grandes descobertas e sucessos. Financiamos a pesquisa da Escola Politécnica de Milão. Depois de muitos meses, chegamos à tecnologia de produzir o ácido em escala industrial, mais barato e rentável. Patenteámos isso. Dado que tens o processo, muda do laboratório para a fábrica. Mas tu precisas de adaptar a tecnologia e isso vem com trabalho duro. Não é algo automático. Começamos os testes, analisamos os dados, vemos o que está a funcionar, adaptamos, melhoramos, mudamos. É uma evolução constante.
Para além da fábrica em Caserta, a empresa de Flamini possui escritórios em Itália, Holanda e pretende abrir mais uma filial nos Estados Unidos:
Somos a primeira e única companhia no mundo a produzir ácido levulínico em escala industrial. Fazemos a partir de restos de comida ou de milho. Investimos muito dinheiro nisso, era um grande risco. Mas tens que correr riscos para ser bem-sucedido. É um desafio. Empregamos cerca de 80 pessoas na fábrica e damos trabalho a um total de 400 pessoas. Em tempos de crise na Itália, isso deixa-me ainda mais orgulhoso. Contamos com pesquisadores, químicos e outros cientistas de Itália, França, Rússia, Holanda, Alemanha e Egipto. Trabalhamos em conjunto com a famosa Universidade de Pisa, uma das melhores da Itália.
Flamini, tal como se referiu em cima, manteve o secretismo à volta deste assunto e só revelou há cerca de um ano o projecto à sua família. Os próprios colegas com quem partilhou o balneário durante anos nunca souberam de nada.
O médio francês fez ainda questão de salientar o esforço que esta descoberta proporcionou, a efemeridade de um futebolista e o pioneirismo que promete revolucionar o mundo como o conhecemos:
Somos pioneiros. Estamos a abrir um novo mercado, com potencial para valer acima de 25 biliões de euros. Muitas pessoas tentaram e falharam na busca por uma forma de produzir o ácido. Para mim, isso foi uma válvula de escape. A carreira de jogador é feita de altos e baixos. Estava claro na minha mente e ajudou-me a pensar sobre algo diferente. E isso foi intelectualmente desafiante também. Eu li sobre química, mas não sou químico. Comecei na Faculdade de Direito em Marselha, até ter que abandoná-la por causa da carreira no futebol. Mas eu sei muito sobre o ácido e o processo em curso.