A paciência está a esgotar
3 min readAquelas pessoas interessadas que lêem com assiduidade o que vou escrevendo neste espaço (sim, quatro ou cinco leitores…) sabem que não morro de amores por Julen Lopetegui. Todavia, sabem também que nunca defendi a sua saída do clube e que mostrei por diversas vezes um sentimento de confiança sobre o percurso no FC Porto e, naturalmente, a conquista de títulos, apesar das contrariedades que se somaram.
Volvido ano e meio desde a sua chegada ao Dragão, parece-me certo do que Lopetegui não vai surpreender ninguém com os seus atributos. Aliás, foi o próprio, em tom elogioso, que disse que o FC Porto era uma “equipa muito previsível”. Não poderia estar mais correcto. De facto, ao cabo de 18 meses de trabalho, Lopetegui e, por consequência, a equipa padecem das mesmas virtudes e defeitos. Se assim é e se na época transacta vimos os títulos por um canudo, estará esta equipa fadada a repetir os inêxitos de 2014/2015? Não consigo responder a esta questão. Quero acreditar que não, mas a verdade é que uma fatia significativa de adeptos começa já a traçar este cenário quase apocalíptico.
Voltando à vaca fria, o jogo frente ao Dínamo de Kiev foi elucidativo no que concerne à continuidade das virtudes e defeitos do FC Porto. Foi-o sobretudo devido ao resultado, que ditou a primeira derrota da temporada e pôs em xeque a continuidade na Liga dos Campeões. Isto porque já em partidas anteriores a equipa patenteou aquele futebol molengão e inconsequente, desprovido de qualquer verticalidade. Porém, os resultados e as exibições foram sendo relativizados. Foi assim com Moreirense, Braga, Benfica e até Vitória de Setúbal.
Para além da persistência num sistema de posse inócua, o jogo frente aos ucranianos deixou a nu algumas das fragilidades de Lopetegui enquanto técnico.
Primeiramente, na antevisão ao jogo, o basco afirmara que este era o jogo mais importante da época até ao momento; vai daí, deixa André André, o jogador mais influente da equipa – o único centrocampista com a capacidade de se virar para a baliza adversária sem cair na tentação de iniciar aquele processo de interminável lateralização –, no banco de suplentes, repetindo a opção no jogo frente ao Vitória de Setúbal, emendada novamente ao intervalo. O problema é que o Dínamo de Kiev tem outro estofo. Por conseguinte, continua esta apetência pela rotatividade sem qualquer lógica que a sustente.
Depois, se a entrada de André André era imperativa, a decisão, também ela justificada como opção técnica, de tirar Maxi Pereira de jogo foi inenarrável. Por um lado, a equipa deixou desde logo de usufruir da influência do lateral, que não raras vezes rompe com o marasmo da posse de bola e consegue chegar à linha de fundo para criar real perigo nas defensivas adversárias. Por outro, Lopetegui conseguiu mexer em quatro posições numa só substituição: Layun passou para a direita, Indi para a esquerda, Danilo Pereira para central e Imbula para trinco. Honestamente, no que estaria o treinador a pensar? Se a equipa não se encontrou em campo na primeira parte, com mudanças desta ordem era praticamente impossível registar algum melhoramento.
Posto isto, a passagem à próxima fase da Liga dos Campeões não é impossível. Mas é improvável, dado o histórico negativo que o FC Porto coleccionou nas viagens a Inglaterra. Isto não seria tão criticável caso o panorama no campeonato fosse outro. A situação não é má, longe disso, mas sabe-se que o FC Porto pode vacilar a qualquer momento contra qualquer adversário. Não se sente aquela aura de campeão, aquela confiança inabalável de outrora. Prova disso é a incapacidade de esta equipa virar um resultado.
O ciclo que se aproxima é de uma importância vital. O foco agora deve ser totalmente direccionado para o campeonato. O Sporting apontou as baterias para esse objectivo e é determinante que o FC Porto não perca pontos até ao final do ano civil, sob pena de ver fugir os leões.
Eu ainda confio!